O que tem me assolado por estes dias é o fato de a MPB contemporânea girar em torno dos filhos, netos ou sobrinhos dos veteranos. Em contraposição a esse fato, o fanque, o rep, o hip-hop e outros estilos musicais mais próximos da sociedade atual, provenientes da rua e das favelas, vêm abrindo novas portas para a renovação da música. O mais admirável nas “vozes das ruas” é que estão conquistando seu espaço sem depender de ninguém, diferentemente dos filhos dos grandes veteranos da música popular brasileira cujo nome, somente, basta.
Compreendo que foi difícil para os membros da MPB conquistar seu espaço no cenário musical brasileiro, mas compreendo, também, que as novas gerações da música nacional estão tendo seu trabalho reconhecido. Independentemente de gostar ou não dessas novas vozes que agora surgem — e das letras de suas músicas — devemos assumir que é mais que merecido, a qualquer (repito: qualquer) artista que tenha batalhado para fazer aquilo que ama, os aplausos do público.
O ponto abordado aqui não é o princípio do fanque, rep ou hip-hop, mas sim o papel desempenhado pelos seus representantes. Caetano Veloso disse: “A bossa nova é foda! João Gilberto é foda, Tom Jobim é foda, eu sou foda”, agora, parodiando o grande ídolo de todas as gerações existidas, existentes e futuras, afirmo: “As vozes das ruas são fodas! Fanque é foda, rep é foda, hip-hop é foda.” A realidade de um povo, independente se maquiada ou inventada, será sempre a figura do naturalismo. Naturalismo esse, visceralmente sincero. Portanto, “a arte imita a vida”. Os movimentos artísticos de rua merecem, sem dúvida alguma, seu lugar no papel da cultura brasileira.
A arte das ruas é a mais sincera representação da realidade de um povo, mas, nem sempre, é vista por este como espelho, e sim como matéria degradante da sociedade. Se o fanque retrata atos obscenos, espalhafatosos, indecorosos, é porque isso existe em nosso meio, seja cultural ou não; o povo não vive da cultura, mas a cultura vive do povo, e é necessário, para o bom andamento da vida social, o reconhecimento de que até mesmo os pontos negativos da arte não degradam a sociedade; na verdade, é a sociedade que influi na arte. Isto é, digamos, uma resposta quase imediata, se não repentina.
A todos cabe, não somente respeitar, mas, reconhecer qualquer forma de expressão artística como parte da cultura de seu povo. As ruas são e sempre serão aplaudidas por alguns e, infelizmente, apedrejadas por outros, mesmo que esses outros pensem ou pratiquem o que tanto criticam. O mundo gira, os tempos mudam e a cultura, por bem ou por mal, se renova; este é o ciclo de uma sociedade. Enquanto alguns lutam por um espaço, outros espreguiçam-se no que é apenas utopia para os que ainda não têm, sequer, um terço deste. É a lei da sobrevivência na selva da cultura nacional.
O que mais importa é que, ouvindo Bossa Nova ou fanque carioca, o povo brasileiro continua lindo, o povo brasileiro continua belo!
NOTA: Não seria necessário dizer, mas, por menos que pareça ou que eu faça parecer, “toda regra tem exceção”.
Vinícius Siman
Ipatinga, 16 de junho de 2015