antigo panorama aéreo e recente retrato subterrâneo de ipatinga
Novembro 03, 2015
quando criança,
eu via as árvores
e suas aves escandalosas,
via as putas nas ruas tortas do veneza ii,
os maconheiros nos arredores da vila celeste
e achava feio,
via os monstros da infância
nas ciclovias rubras,
os ricos e suas pompas nas ruas limpas do castelo,
e achava chique.
eu via ipatinga da forma que ela era.
hoje vejo-a da forma que ela se mostra.
na adolescência,
eu vejo as chaminés da usiminas
e o ódio e a exploração que saem como fumaça,
vejo as putas tristes e acho lamentável a situação destas,
os maconheiros no parque ipanema que lutam pela arte
e acho lindo,
vejo os monstros de uma realidade hostil
nas sarjetas boêmias das madrugadas quentes,
os ricos e seu desprezo nas ruas porcas do castelo,
e acho abominável.
talvez ipatinga tenha mudado muito nestes treze anos,
mas é mais provável que eu tenha mudado.
e mudei.
ipatinga não é mais a mesma.
nunca foi.
eu via ipatinga da forma que ela não era.
hoje vejo-a da forma que ela não quer se mostrar.