ocioso oceano
Janeiro 30, 2016
mente, oh mente minha
por que insistes tanto no real?
por que não crês no que crias?
minta, mente minha, minta
e sinta
o que só quem mente
sente
quantas vezes, oh mente
me prendeste à realidade?
a esta realidade inútil e mentirosa?
por que não mentes a teu favor?
a meu favor, oh mente
por que não mentes?
e no orifício
oculto
do ofício
bruto
entrega-te ao gozo do esplendor
do pensar
do não-ver
do não-objeto
da não-coisa-humana
e sinta, oh mente profana
e minta pra si mesma
e minta
e minta
E MINTA!
oh, mente que tramita
pelos corredores mais obscuros
das mais obscuras vidas
por que não mentes
oh mente?
por que só crês
naquilo que vês?
naqueles três
que andam de braços dados?
(olha a corrente
que mata gente...)
e ouço um som obscuro
por detrás do muro
e que por obséquio me seca
e eu me seco neste som fosco
nesse povo tosco
de mãos dadas
(...olha a corrente
que não perdoa nada...)
realidade
saia de minha mente pueril
e faça-me ver a verdade
a verdade que ninguém nunca viu
oh mente, mente minha
por que insistes no visível
no risível mundo real?
seja séria: não faça-te mal
mente, oh mente minha
quisera eu que jamais visses as mentiras deste mundo real
quisera eu que vivesses em plena fantasia
em plena luz do dia
no sol que raia da janela e expulsa os astros pra dentro de casa
nos duendes e nas ninfas e nas fadas
nos gnomos que não vê-se quando está-se sóbrio
no opróbio
desenvolver-se do sódio
do sádico
do nórdico
do rádio de pilha da cozinha
onde a cozinheira agora escuta amado batista
(e nas galáxias que insistem em ser eu
e nas curvas da mulher que desejo
e no toque e no olhar e no beijo
e no lampejo de ideia a cessar
na vela que na saleta se acendeu
e na lâmpada que mais tarde se acenderá)
corpo corpo
corpo meu
que de meu nada tem
se nem minha mente mente quando quero
e se nem me dá graça quando ganho desdém
corpo corpo
corpo além-
mar
sonhar
cantar
imaginar-
se
marginalizar-
se
cantar-se
sonhar-se
(a)mar-se
se minha mente talvez fosse mar
seria ocioso oceano