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blogue do siman

escritor • crítico • diretor de teatro • editor

elegia arcaica

Junho 30, 2016

 

andais por caminhos tortos

lutais por ideais distorcidos

esqueceis dos velhos amigos

pendurais

                    nas paredes de tua residência

                    os retratos dos mortos

 

          (tivestes insônia em plena luz do dia

          sofrestes por amores que sabias que não dariam certo

          fizestes de teu pseudo-mundo concreto

          burramente

                              reminiscências aladas

                              de dor e agonia)

 

que seria de ti, passado bucólico

se não vivesses a venerar os defuntos

e pôr-se hermético a novos assuntos?

inauguras

                    todo santo dia santo

                    teu rancor e teu ódio diabólico

fanatismo

Junho 27, 2016

 

Quando penso em alguém, só penso em você.

RENATO RUSSOPor enquanto

 

se te vejo no sábado

passo o domingo inteiro feliz

          na segunda toda

     fico triste

          na terça inteira

     meu coração se dilacera

          em toda a quarta

     lembro-me que te amar é uma dor

          por toda a quinta

     morro de saudades

          na sexta, o dia todo

     fico nervoso

           no sábado, enquanto a noite não chega

     anseio sua volta

Soneto ao acaso

Junho 23, 2016

 

Entre dias e noites sem fim

O acaso tece sua teia

Escandalosa, horripilante e feia,

Feita sob medida pra mim.

 

O acaso que me constrói,

É o mesmo que faço de estrada

— Que talvez só me leve ao nada

E torne-se o que me destrói.

 

As formigas disputam a vida

Quando alguém as pisoteia,

E a vida tem de comprida


O que tem de curta e feia

Sob o pé que faz destruída

A colônia do acaso — e sapateia.

Soneto

Junho 23, 2016

 

Querida, vou lhe dizer

O que não digo de agora:

O que hoje sorri,

Amanhã ou depois chora.


O que hoje é amor,

Pode sofrer reviravolta

E tornar-se, de repente,

Nada além de revolta.


Os teus beijos, teus mormaços,

Que hoje são de alarido,

Podem tornar-se abraços


De bons e distantes amigos,

Pois tudo, num só passo,

Pode mudar de sentido.

uma triste história de amor

Junho 23, 2016

 

lucas almeida e jorge souza tinham um affair de cerca de sete meses. viam-se semanalmente aos sábados. entregavam-se, amavam-se, sentiam-se na mesma cama do mesmo quarto do mesmo motel. naquele sábado, que até então tinha tudo pra ser feliz, lucas deu a triste notícia: estava noivo de priscila araújo. amaram como nunca naquela despedida. envolveram-se, entregaram-se, sentiram-se e dormiram pesadamente, como nunca — já que sempre que estavam juntos dormiam leves e despreocupados (e é bom lembrar que os dois sofriam de insônia). de manhã, na hora de ir embora, apertaram-se as mãos sem dizer palavra. lucas foi. e jorge suicidou-se, enquanto o cheiro do homem que amava ainda estava em seu corpo

veneração

Junho 21, 2016

a lucas, perfeito

 

você

          imerso em estrelas

          deitado nos astros

     todo de nádegas

               e coxas

               e pênis

 

     todo de amores

               e terrores

               e mesuras

 

                              seu corpo imerso

                                               intacto

                                               incólume

                                   que entregas-me

                                   a fim de que o use

                                        mas sem saber

                                        que, na verdade

                                                  você me usa

                                                  com ânus

                                                       e umbigo

                                                       e peitos

 

lábios carmim

                         úmidos

          postos contra os meus

          que me beijam

          em momento de delícia infinita

          cabível apenas ao universo

                         e à grandeza imensa das galáxias

 

               sua beleza

               seu corpo

               sua alma

                              postos contra

                              minha beleza precária

                              meu corpo familiar

                              e minha triste alma

 

todo de nádegas

               e coxas

               e pênis

                              descansa sobre os lençóis estrelados

                              de meus sonhos

 

               adoro-te!

               estrela das estrelas!

               beleza das belezas!

               corpo onipresente!

crônica escandalosa e estridente - ii

Junho 16, 2016

 

e por curiosidade e por fome de fumaça, decido retroceder ao pequeno bosque. (oito e meia da noite.) no início, somente o mesmo homem branco com o mesmo capacete na mão. no final, o mesmo negro do piru nos lábios. findado o bosque, o kartclube — o afeminado gordo e negro e o rapazinho da blusa levantada. passo por eles. “uns trinta reais”, diz o da blusa levantada, e não presto atenção no resto porque olho pra lua coberta pelas nuvens densas e cinzentas, gaivotas, fanque, radiopatrulha, fumaça dos cigarros e pela pederastia. vou até um buteco ali perto, compro o que desejava. volto. o gordo e negro afeminado me diz um oi todo pretensioso e feliz; não respondo. no bosquezinho, ninguém. na entrada do parque ipanema, um negro com uma touca na cabeça e eu nos olhamos profundamente. vou ao bebedouro. sorvo água suficiente pra ele se levantar e vir até mim. vou ao banheiro, olhando pra trás: ele vem. tiro o pau pra fora e mijo. ele chega, entra num box com a porta entreaberta. vou em direção à saída. ele diz oi, todo pretensioso e feliz. ignoro. “vem aqui”, ele insiste. dou meia-volta. “tira pra fora”, ele implora, quase chorando. não faço nada. ele então sai e eu o acompanho. “não sabe um local bom aqui?”, pergunta. respondo que não. “vamos ao estacionamento ali na frente”, ele quase afirma e quase obriga. acompanho-o. nove horas da noite. chegamos à escadaria mais remota e obscura do ipatingão, de frente pra br. tiro o pau da bermuda. ele me chupa macia e gulosamente. ele tira a calça e vira pra mim. chupo seu cu macia, gulosa e rapidamente. finco-o com meu ferrão dura e gulosamente. ele geme, e seu gemido é mais escandaloso e estridente que a pederastia. tiro o ferrão de seu rabo. ele, novamente, me chupa. masturbo-me freneticamente, afobadamente, desesperadamente. quando prestes a esporrar, guardo meu pau na bermuda: alguém está descendo a escadaria e nos olha. descemos a escada do estádio rapidamente. ele me pede meu número de whatsapp. passo-lhe. despedimo-nos. sigo rumo à casa. nove e meia da noite, no morro da casinha do papai noel, numa viatura da polícia co’as portas abertas, policiais fumam maconha. sigo. mais à frente, virando a esquina do iguaçu com o trevo do jardim panorama, uma travesti, escandalosamente maquiada, com uma bolsa nas mãos, diz “oi, tudo bem?” toda pretensiosa e feliz. “oi”, respondo sem parar de caminhar a passos largos. “vamos ali, deixa eu bater um boquete pra você”, “não, não. obrigado”. e continuo. na avenida gerasa, no canaãzinho, às dez e quinze da noite, um casal heterossexual (a menina suspensa num degrau da escadinha) beija-se freneticamente, afobadamente, desesperadamente. viaturas da polícia circulam com as radiopatrulhas ligadas. um bêbado na sarjeta, um cracudo na sarjeta, eu na sarjeta. ou

 

(continua...)

crônica escandalosa e estridente - i

Junho 15, 2016

 

sete e meia da noite. passo pelo pequeno bosque que antecede o parque ipanema. no começo do bosque, um jovem com a camisa erguida exibindo sua barriga definida, acompanhado por um homem alto e gordo e negro, começa a caminhar em minha direção quando me vê, e o alto, gordo e negro o acompanha. vão me pedir cigarros, penso; mas passam por mim, desconfiados, sem dizer palavra. olho pro céu: nuvens densas tentam cobrir a lua crescente quando, no meio do bosquezinho, vejo três homens conversando. um negro, um amorenado e um branco com um capacete na mão. o negro diz: “...ele tem um piru delicioso — quando aquilo escorrega nos meus lábios!...”. não presto atenção no resto. olho pro céu. as nuvens correm, tentando esconder a lua, mas não conseguem porque têm falhas; e a lua prevalece. na entrada do parque ipanema, um rapaz negro me pede um cigarro. dou-lhe o maço, não sei porquê. entro no parque. gaivotas escandalosas irritam-me com seus gritos estridentes; e passam pela lua tentando fazer o que as densas nuvens cinzentas não conseguiram. lelekes ouvem fanque em volume alto, mais escandaloso e estridente que os gritos das gaivotas. velhos e mulheres e jovens correm freneticamente, afobadamente, desesperadamente. oito horas da noite. sento-me num banco qualquer, mas logo levanto, pois sinto fome de fumaça. vou às barracas. nenhuma tem cigarro. volto. o banco onde estava sentado há pouco está ocupado. sento na beirada, distante do jovem negro que fuma o último cigarro do maço que lhe dei. e me diz: “quando você for a valadares a gente se tromba”, levanta-se e sai fumando meu alimento. mas o meu combustível me aguarda na barraca da tia lúcia: uma dose de remédio amarelo e líquido. tomo. pago. motos com policiais passam num vaivém desenfreado (frenético, afobado, desesperado...). luzes vermelhas piscam por sobre as motos alegóricas. e a radiopatrulha emite comandos, mais escandalosa e estridente que o fanque. e os postes com suas lâmpadas esféricas refletem a luz da lua, agora tampada pela insistência das nuvens, das gaivotas, do fanque, da radiopatrulha, da fumaça, dos cigarros e da pederastia mais escandalosa e estridente que as radiopatrulhas. e

 

(continua...)

porralô-k

Junho 11, 2016

 

madrugada. um cachorro gordo e peludo que estava parado começa a caminhar e revela o cachorro magro e sem pelo que se escondia detrás dele. um crackudo geme e reza e chora, atordoado — “meu jesus, meu deus, deixa eu fazer o que eu quero, deixa eu fazer, jesus, me deixa, deus...” — enquanto o cachimbo não chega até ele. mais à frente, num fast-food, pessoas comem seus cheeseburgers e tomam coca-cola, ou pepsi, ou fanta, ou fuck you! à frente do fast-food, num food truck, um cozinheiro prepara cheeseburguers enquanto pessoas jogam conversa fora enquanto uma pedra pratica a sabedoria permanecendo em silêncio. mais a frente, um mendigo com jeito de americano fala algumas bobeiras estadunidenses enquanto revira uma lixeira — “the english it’s the language of the gentlemen” — sem classe nenhuma. encontra uma flauta doce dividida ao meio. faz uma gambiarra e conserta-a. sai pelas ruas tocando sua maravilhosa melodia de lord anglo-americano. e a pedra delicia-se mais com a melodia arranhada da flauta do pseudo-músico do que com as palavras desnecessárias das pessoas do food truck, do fast-food e da put a keep are you. — the and...

 

escrito na casa de rubem

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