se praga de mãe pegasse...
Setembro 09, 2017
dia desses mamãe, falando sobre as proezas infantis do meu pai, disse-me que certa vez ele tinha aprontado uma desobediência escabrosa com sua mãe. ela então, irritada, jogou a pior praga que tinha em mente, a pior de todas as maldições, a pior coisa que uma mãe pode desejar a um filho: “você vai casar com uma preta beiçuda!”
vó abigail (mãe de meu pai) é preta não-assumida. meu pai é preto. preto preto mesmo. minha mãe se diz “parda” (pra começar: pardo não é cor de gente, é cor de envelope). tem traços finos, mas não é tão clarinha quanto pensa. pai dela sim, era branco duzói verde. mãe dela é da cor dela, mãe da mãe dela era branca duzói verde também; nunca chegay a ver o marido de minha bisavó, mas devia de ser preto, porque minha avó e mamãe são “pretas claras”.
eu sou preto. tenho os traços finos de mamãe, mas nem por isso fico mais claro.
mas o que acontece é que, no final das contas, a maldição que vó abigail jogou em papai não pegou — ainda. magina só se praga de mãe pegasse! meu pai estaria fudido e mal-pago. casar com pret@ sempre foi sinal de mal gosto. papai não, papai só anda nos trink’s. é o que se pode chamar de preto d’alma branca.
na foto ali em riba tá friedenreich, craque do futebol brasileiro que, segundo consta, alisava o cabelo e usava smoking. por que até quando todos estavam mal arrumados e descontraídos ele trajava vestes finíssimas? resposta é clara: pra ser respeitado ele tinha que ser mais branco que os brancos!