agora há pouco estava deitado e me veio uma lembrança agradável dum homem que me possuiu em 24 de dezembro do ano passado (2016), que chegou aqui em casa por volta das três da madrugada fria e partiu às seis da manhã quase ensolarada. lembro-me de todos os detalhes. nos amamos, tomamos banho, conversamos sobre filosofia (helenistas, socráticos, medievais...), religião, política... daí me levantei pra fazer um café, tomamos. fui ligar pra um táxi vir levá-lo de mim; ele se aproximou, me abraçou por trás, beijou-me tranquilamente e me levou pra cama outra vez. mais um banho. fomos à procura do táxi à pé. nos despedimos — ele é de beagá.
dei uma volta, à tarde ele me ligou dizendo que voltaria. nos amamos sob o chuveiro por mais de hora e meia. depois deitamos no sofá (minha cabeça em seu colo). ouvimos e cantamos rita lee (até hoje toda vez que ouço rita lembro-me dele). mostrei-lhe um cronto que escrevi pensando nele assim que partiu pela manhã. um beijo carinhoso. conversamos sobre filhos, casamentos, história e acidentes. ele foi.
de manhã tinha pensado que nunca mais o veria; ele voltou à tarde. à tarde pensei que voltaríamos a nos ver com frequência; nunca mais nos vimos, nem nos falamos.
pra você ver, leitor, que eu não me esqueço nunca de momentos, mas de nomes... ih!
agora alcançaremos o clímax do texto: eu estava deitado há pouco lembrando-me de tudo isso, rindo feito bobo, quando franzo as sobrancelhas e me pergunto: “qual é o nome dele mesmo?” puta que me pariu!... e nada de lembrar!
daí me dei conta de que tinha escrito aquele cronto e que tinha colocado o nome dele lá. revirei minhas caixas, procurando um por um, olhando os títulos de cada folha cuidadosamente e tenho uma luz: bruno! isto! é bruno o nome do rapaz! eureca!
nem arrumei os papéis espalhados pela casa e vim correndo escrever isto antes que me esqueça de novo. agora vou ter que emoldurar esta folha e botar na cabeceira da minha cama. e olha que um dos meus maiores medos sempre foi ter alzheimer — minha família tem uma lista imensa de gente que ficou caduca. ieu, hein!? deus quime livre!
obs.: bruno, se você ler isto, peço perdão pelo esquecimento (que está longe de desconsideração, claro). sinto saudade — do café, da filosofia, da rita, da miríade de momentos curtos, de tudo. beijos.
madrugada de 17 de junho de 2017