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blogue do siman

escritor • crítico • diretor de teatro • editor

tem coisas que só o candomblé faz pela gente

Novembro 27, 2017

Oya2.jpg

 

tem coisas que só o candomblé faz pela gente.

na noite desta sexta fui ao terreiro manzo n’gunzo amazilemba, em coronel fabriciano. ah! aqueles tambores, aquelas danças, aqueles santos, aquelas peles pretas suadas cheias de energias até os dentes... aquele contato direto c'o ancestral em mim, no meu sangue, o contato comigo mesmo através das entidades.

a dança de iansã é bonita por demais pra passar despercebida: seus braços serpenteando raios nervosos no vento, seu passo decidido rumo ao atabaque, sua gira, o suor pingando da face. as palmas nas mãos e na pele de bicho do tambor...

o cheiro da pemba soprada na minha cabeça, o cheiro de rosas inundando o terreiro quando oxum chega, o machado de xangô cortando os ares e as maldições.

tem áreas das mais profundas nas nossas emoções que só elza soares, nina simone e a dança de iansã conseguem alcançar.

anotações após assistir "aquarius"

Novembro 23, 2017

aquarius-new-840x497.jpg

 

assisti aquarius. tô cheio de angústias, cheio de incertezas, cheio e agonias e titanomaquias.

anotem: no futuro este vai ser considerado o filme que marcou minha geração.

*

*                  *

aquarius é uma miríade de assuntos importantes e sensíveis.

tudo é genial — a imagem, a trilha sonora, os assuntos tratados, o roteiro, a direção — tudo!

na cena em que clara (sonia braga) volta da praia, tira as alças do maiô, confesso que esperava só um “nu” de seios; mas não, não ficou por isso. o impacto que tive quando vi a mama deformada... ah!

cada detalhe desse filme dá pra levantar mil e um debates.

um filme 100% brasileiro (essa clandestinidade de cenários e figurino e figurantes e linguagem), cuja história — indo contra a correnteza — não se passa no rio de janeiro, cenas muito longas, enfim. é impactante do início ao fim.

quem assistiu aquarius e saiu o mesmo, meu amigo, ou é insensível demais ou não entendeu a grandeza (e também a singeleza) desse filme.

*

*                  *

anteontem eu passei praticamente o dia todo matutando sobre o cinema (e as artes em geral)... se o cinema comporta toda a essência da incoerência humana, o existir estocástico dos homens na vida, etc.

"será que o cinema consegue alcançar o poço mais fundo da alma humana e colocá-la na tela?" — me perguntei, e respondi: "acho que não".

pois eu vi que estava redondamente enganado. aquarius me revelou isso. clara não é mocinha nem vilã e ao mesmo tempo é mocinha e vilã mas não é nada disso — não se encaixa nas binárias clichês da arte comercial, é um ser complexo, nu de frente pro espelho da alma do espectador; é um ser humano ali, sou eu, eu me vi em clara, e aí tá o foda do negócio: clara não é um personagem — é um humano. e não é qualquer humano — sou eu, eu na tela, me assistindo, com toda a minha incoerência e existir estocástico dos homens na vida.

pra não esquecer aquele rapaz que não lembro o nome

Novembro 20, 2017

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agora há pouco estava deitado e me veio uma lembrança agradável dum homem que me possuiu em 24 de dezembro do ano passado (2016), que chegou aqui em casa por volta das três da madrugada fria e partiu às seis da manhã quase ensolarada. lembro-me de todos os detalhes. nos amamos, tomamos banho, conversamos sobre filosofia (helenistas, socráticos, medievais...), religião, política... daí me levantei pra fazer um café, tomamos. fui ligar pra um táxi vir levá-lo de mim; ele se aproximou, me abraçou por trás, beijou-me tranquilamente e me levou pra cama outra vez. mais um banho. fomos à procura do táxi à pé. nos despedimos — ele é de beagá.

dei uma volta, à tarde ele me ligou dizendo que voltaria. nos amamos sob o chuveiro por mais de hora e meia. depois deitamos no sofá (minha cabeça em seu colo). ouvimos e cantamos rita lee (até hoje toda vez que ouço rita lembro-me dele). mostrei-lhe um cronto que escrevi pensando nele assim que partiu pela manhã. um beijo carinhoso. conversamos sobre filhos, casamentos, história e acidentes. ele foi.

de manhã tinha pensado que nunca mais o veria; ele voltou à tarde. à tarde pensei que voltaríamos a nos ver com frequência; nunca mais nos vimos, nem nos falamos.

pra você ver, leitor, que eu não me esqueço nunca de momentos, mas de nomes... ih!

agora alcançaremos o clímax do texto: eu estava deitado há pouco lembrando-me de tudo isso, rindo feito bobo, quando franzo as sobrancelhas e me pergunto: “qual é o nome dele mesmo?” puta que me pariu!... e nada de lembrar!

daí me dei conta de que tinha escrito aquele cronto e que tinha colocado o nome dele lá. revirei minhas caixas, procurando um por um, olhando os títulos de cada folha cuidadosamente e tenho uma luz: bruno! isto! é bruno o nome do rapaz! eureca!

nem arrumei os papéis espalhados pela casa e vim correndo escrever isto antes que me esqueça de novo. agora vou ter que emoldurar esta folha e botar na cabeceira da minha cama. e olha que um dos meus maiores medos sempre foi ter alzheimer — minha família tem uma lista imensa de gente que ficou caduca. ieu, hein!? deus quime livre!

 

obs.: bruno, se você ler isto, peço perdão pelo esquecimento (que está longe de desconsideração, claro). sinto saudade — do café, da filosofia, da rita, da miríade de momentos curtos, de tudo. beijos.

 

madrugada de 17 de junho de 2017

das reflexões que se faz quando bêbado

Novembro 20, 2017

§ 1º ontem, passeando pelo parque ipanema com rubem e girvany, pensei na escrita de rubem. é muito simbolista, praticamente impossível de entender-se. talvez daqui alguns séculos entendam o que ele escreve hoje; e quero estar lá pra entender também. "então por que você gosta tanto de algo que não entende?" -- os meticulosos perguntarão. e respondo: é justamente por isso que gosto tanto do que rubem escreve -- por não entender, por seus textos serem tão indecifráveis e... sei lá!

 

§ 2º abraço é a melhor tática de controle à carência que o sistema capitalista inventou.

 

§ 3º não sei porque tenho tanta paixão pelo experimentalismo musical (lê-se glass, sven-tüür, pärt, reich...), essa loucura toda, essa coisa de gamar numa nota e fazer variações dela horas à fio, entregando ao público uma melodia inacabada e, justamente por ser inacabada, sem fim. só sei que faço viagens intergalácticas e interpessoais e interuniversais com esse tipo de música e que, na última semana, ouvi reich todos os dias. se apaixonar por música experimental, música clássica do século 20/21, não é fácil; requer sensibilidade e frieza -- a frieza dum médico quando decreta um câncer, a sensibilidade dum sertanejo mineiro enrolando o pito e contando causos.

 

§ 4º ainda sobre reich: come out é uma das coisas mais geniais que já ou-vi. caso harlem six -- seis jovens negros foram presos pela polícia de nova iorque por serem suspeitos de matar uma mulher branca. um deles foi espancado na prisão, os policiais não deram importância e ele fez um furo numa das lesões do espancamento pra mostrar pros policiais o que tava acontecendo de verdade. truman nelson, militante dos direitos civis, entregou 70 horas de fitas com áudios dos harlem six a steve reich, e dessas 70 horas de áudio ele pegou quatro segundos apenas, com os dizeres "i had to, like, open the bruise up, and let some of the bruise blood come out to show them", que só aparecem completos três vezes, no início da música, e depois frisa-se "come out to show them" exaustivamente, em looped, até a linguagem desaparecer e virar só melodia. a coreografia da dança incônica que tem come out como tema é de anne teresa de keersmaeker, e essa música com essa dança... ai! meu deus... não sei nem o que dizer além de simplesmente genial!

 

§ 5º "moreninho" é preto arrumadinho, de brusinha cara e tudo mais.

 

§ 6º café em excesso dá o mesmo efeito que cocaína.

 

§ 7º mãe, estou bêbado (ou cheirado?) de café.

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