Nos tempos de minha adolescência Skylab era subversão
Julho 09, 2020
Antes eu ouvia Skylab baixinho, e aquela realidade me era limitada à vergonha dos fones de ouvido; hoje, já apresentei-o à minha mãe e avó, e ao meu irmão menor de idade, ouço praticamente todos os dias na maior altura pros vizinhos darem notícia. Nos tempos da minha rebeldia adolescente, Skylab era subversão, agora é literatura e sentimento, estirpe. Há muita coisa que um cidadão (cidadão, não! músico formado, melhor do que você!) chamado Rogério Skylab fez por mim durante minha puberdade gay e agora já na vida adulta.
Eu era um rebelde sem causa. Minha causa atual é a beleza. Luto pela beleza em tudo, e luto pela realidade. Há de se ter realidade e beleza pra ser válido, e julgo impossível encontrar-se coisa mais pujante que isso além de duas premissas: Homero e Rogério Skylab. Minha literatura se banha muito na Ilíada e enxuga-se nos discos de Rogério. Meu último livro, por exemplo, Erodisseia, é o argumento perfeito, é a síntese de tudo: um livro de poemas pornográfico-escatológicos gays, em forma de poema épico. São poemas bonitos e longos.
Como maior elogio possível vindo de mim, direciono a Skylab toda a minha inveja — queria ter nascido ele pra inaugurar o tamanho movimento que surgiu através de sua voz, queria ter tido essa importância, esse impacto.