anotações após assistir "aquarius"
Novembro 23, 2017
assisti aquarius. tô cheio de angústias, cheio de incertezas, cheio e agonias e titanomaquias.
anotem: no futuro este vai ser considerado o filme que marcou minha geração.
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aquarius é uma miríade de assuntos importantes e sensíveis.
tudo é genial — a imagem, a trilha sonora, os assuntos tratados, o roteiro, a direção — tudo!
na cena em que clara (sonia braga) volta da praia, tira as alças do maiô, confesso que esperava só um “nu” de seios; mas não, não ficou por isso. o impacto que tive quando vi a mama deformada... ah!
cada detalhe desse filme dá pra levantar mil e um debates.
um filme 100% brasileiro (essa clandestinidade de cenários e figurino e figurantes e linguagem), cuja história — indo contra a correnteza — não se passa no rio de janeiro, cenas muito longas, enfim. é impactante do início ao fim.
quem assistiu aquarius e saiu o mesmo, meu amigo, ou é insensível demais ou não entendeu a grandeza (e também a singeleza) desse filme.
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anteontem eu passei praticamente o dia todo matutando sobre o cinema (e as artes em geral)... se o cinema comporta toda a essência da incoerência humana, o existir estocástico dos homens na vida, etc.
"será que o cinema consegue alcançar o poço mais fundo da alma humana e colocá-la na tela?" — me perguntei, e respondi: "acho que não".
pois eu vi que estava redondamente enganado. aquarius me revelou isso. clara não é mocinha nem vilã e ao mesmo tempo é mocinha e vilã mas não é nada disso — não se encaixa nas binárias clichês da arte comercial, é um ser complexo, nu de frente pro espelho da alma do espectador; é um ser humano ali, sou eu, eu me vi em clara, e aí tá o foda do negócio: clara não é um personagem — é um humano. e não é qualquer humano — sou eu, eu na tela, me assistindo, com toda a minha incoerência e existir estocástico dos homens na vida.