das medusas de vanuza
Maio 06, 2016
a vanuza barbara e sua exposição “trans-bordando em chica”
na foto, rubem e eu apreciando a obra de vanuza barbara. foto: © nilmar lage
...e cada peça me olha como se eu estivesse sendo exposto, e as fotografias pregadas na parede — também! — me olham, me encaram, me devoram. a arte de vanuzabarbara me devora, me engole (e me cospe), me trans-borda. as fotos de nilmarlage, igualmente, me devoram, me engolem (e cospem), me trans-formam. viajando nos labirintos místicos da história quase perdida que me encontra num ímpeto todo brutal da vida de chica da silva. o desejo bárbaro de me cortar e me perfurar e me jogar em pedaços num passo que se reanima a cada passo, a cada peça, a cada poça de sangue escravo que adeja sobre nossas cabeças feito chuva e suja-nos de vermelho e preto. não me suporto — nunca me suportei! — olhando, quieto, essa arte que me toca inquietamente, talvez até literalmente, mas me toca com os lábios — superiores e inferiores; me toca com os olhos — inferiores e superiores; me toca com o martírio dos escravos que eram castigados em dias inferiores
cada peça
é uma medusa
no labirinto
de vanuza
e meus olhos saltam, e a arte me cega. e meus olhos recuperam-se, e a arte me cala. e minha garganta se recupera, e a arte me ensurdece. pra que isso tudo se o mundo é escasso? — pra que o embaraço, se tudo é mudo? e cada peça me devora como se eu fosse um prato posto...