sempre o amante, sempre a puta, sempre em segundo plano
Janeiro 22, 2016
sempre o amante, sempre a puta, sempre em segundo plano...
fonte de prazer — nunca de paixão
muito menos de amor
só prazer
só vontade que jaz nos túmulos ocultos do peito
e enrijece o sexo
e faz morder o pescoço
(boquete dia e noite nas picas solitárias)
sempre esquecido por quem devia lembrar
“ninguém me deu tanto prazer como você”, dizem
ah, se prazer fosse tudo pra mim!
se essa afirmação me deixasse feliz!
e falam como se nós, putas
não merecêssemos ser amadas
(puta é um objeto
que só se come
e cospe
e coita
na moita
oculta)
e eu sou comido e jogado fora às pressas, antes que alguém veja
e se esquecem dos meus sentimentos
e dos motivos dos meus lamentos
e dos momentos
de volúpia ininterrupta durante a madrugada
horas à fio
horas sem fio
relógios sem ponteiros
enquanto gozam em meu cu e me fazem beijos-gregos
cospem-me
segundo eles pra escorregar melhor
mas não é:
cospem-me pelo desprezo que sentem
e saio de lá com o cu inchado
sempre objeto sexual usado e jogado às traças
jogado às raças
jogado às roças
que sou eu, segundo eles?
siririca inacabada
lágrima de buceta
que não chega nem aos pés dos olhos