o mundo não cabe no meu olhar
Janeiro 15, 2020
mesmo que me encham os olhos as mais vastas paisagens
o mundo não cabe no meu olhar
desperto todos os dias & o único ato poético que sei é olhar pela janela feito uma máquina
admirar as engrenagens do mundo & a paisagem cada vez menos verde dos morros
beber o cinza da rua contemplar o incontemplável
febril ver arder as chamas que consomem o dia a dia
como uma máquina pontualmente às cinquitrinta eu abro a cortina já sabendo o que hei de encontrar
& querendo [mas ainda mais temendo] uma novidade qualquer na paisagem rota da rua
não sei de nada além da indiferente vizinhança
não conheço outras paragens com tanta ou menor precisão
mas sinto o mundo — sei que ele está
mesmo quando o olhar faz-se pequeno à medida do sentimento
14 de janeiro de 2020