Te vi
Julho 19, 2015
A Rubem Leite, que amo tanto
Era noite. Eu estava lendo Aquela canção ao som de Un vestido y un amor, por Caetano Veloso. As reminiscências faziam-se presentes. Anotações nas beiradas do livro não poderiam ser mais diretas em sugerir-me seu nome. Insistiam. Os garranchos... uma só linha, sem emendas, cortando os tês; linhas paralelas à profundidade das notas: vultos de memória, inspirações, rabiscos avulsos. Sua voz insistia:
— Vou-me já.
— ...antes que o diarreia! — Completou a mente pela força do hábito.
***
Saíamos do Tuffik Cozinha Árabe; estávamos nos despedindo da Vera. Saíamos da Escola Canuta Rosa; nos despedíamos da Adriana. Na Câmara dos Vereadores fizemos uma zona — todos de lá são muito burros! —; nos despedíamos da Maura. Estávamos em sua casa, sentados na cama, olhando a biblioteca e conversando. Avistei Aquela canção. Achei interessante. Você me emprestou.
— Vou-me já. — Você insistia.
— ...antes que o diarreia!
E isso tornou-se um mantra... mantra que, como diria Vitorio Díaz, “fez-se mais que cotidiano — simplismo do dia-a-dia —, fez-se parte vital do corpo.”
***
Fechei o livro, acendi um cigarro e algo restou em mim, além do hálito de poesia e da imitação mais engraçada de viado que vi em toda a vida. Levantei-me da banqueta. Dancei pela casa cantando para o mundo ouvir: “te vi, te vi, te vi, yo no buscaba nadie y te vi...”
Algo restou em mim(?).
As partes vitais do corpo já decomposto pelos vermes(?).